Sofia
era professora para satisfação do pai, Sr. Ernesto, que criou os filhos sozinho
depois que ficou viúvo. Além de Sofia, tinha Herculano que era marceneiro,
filho mais velho já casado.
Sofia
já tinha passado da idade, dita pelas moças da época, de casar. Até mesmo o pai
a incentivava a sair na esperança de que conhecesse alguém e quem sabe
conseguisse um casamento, mas a moça não se abalava, dizia que quando chegasse
a hora acharia seu príncipe.
Sofia
e Matilde, mulher de Herculano e também professora, eram amigas e lecionavam na
mesma escola. As duas sempre voltavam juntas para casa depois das aulas e paravam
em uma lanchonete que ficava no caminho e foi em um desses dias que conheceram Bernardo,
que estava no balcão tomando um café e logo foi atraído pela mesa das moças a
sua frente. Sofia não reparou nada e só se deu conta quando Matilde, que logo
notou o olhar para a cunhada, lhe apertou o braço. Bernardo fez um aceno perguntando
se poderia se juntar a elas e antes que Sofia pudesse dizer alguma coisa, Matilde
fez sinal afirmativo e no minuto seguinte estavam os três a conversar. Bernardo
era medico e atendia em um consultório nas proximidades. Os encontros passaram
a ser regulares e aos poucos Matilde, que já havia notado o interesse de um
pelo outro, mesmo sob os protestos da cunhada, passou a não ir mais. Logo Sofia
ficou a vontade, estava realmente interessada em Bernardo.
Após
seis meses, Bernardo achou que já era hora de conhecer a família de Sofia e
oficializar o namoro. Sofia não havia falado nada em casa sobre Bernardo, ao
pai dizia que estava dando mais aulas e por isso chegando mais tarde. Sr.
Ernesto por sua vez de nada desconfiou só Matilde sabia a verdade e torcia
muito pela felicidade da cunhada de quem gostava como irmã e a seu pedido nem
ao marido contou sobre o namoro. Sofia embora nervosa, mas certa de que era a
melhor coisa a fazer já que estava apaixonada e confiante de que havia
encontrado o homem de sua vida apresentou o namorado ao pai, que de inicio se
mostrou contrariado por não ter sabido de nada antes, mas depois que conheceu Bernardo
e o mesmo fez o pedido de casamento, o que foi inesperado até para Sofia que
não imaginava tal surpresa, ficou radiante de ver que a filha finalmente tinha
conseguido um marido. A notícia logo se espalhou pelo bairro e toda a
vizinhança apareceu para dar os parabéns e se oferecer para contribuir com a festa
de casamento. Sofia era muito querida e seu casamento já havia sido até motivo
de promessa das moradoras mais antigas que a viram nascer e não se conformavam
de moça tão bonita e prendada ainda solteira e por mais que ela dissesse que
não queria nada, as mulheres insistiram tanto que a deixaram comovida e acabou aceitando.
As
vizinhas pareciam formigas trabalhadeiras empenhadas com cada detalhe da festa
nos meses que seguiram para deixar tudo impecável para o grande dia. O bolo
ficou a cargo de Matilde, que além de professora era uma boleira de primeira e
fez questão de fazer o do casamento da cunhada e melhor amiga. O pai não abriu
mão de pagar o vestido da filha e o irmão contribuiu, junto com os homens do
bairro, com as bebidas. O local escolhido para festa foi o salão da associação
dos moradores. Sofia concordou em não se envolver nos preparativos e só cuidaria
dela mesma. Matilde testou várias receitas para o bolo e viu inúmeras revistas
sobre adornos, queria que fosse perfeito. O assunto era recorrente no bairro,
não tinha quem não comentasse sobre o bolo. A curiosidade era imensa sobre a
peça central da festa e para ela foi reservado lugar de destaque no centro do
salão, Herculano fez uma mesa especial com pés altos para que ficasse em evidencia.
Por mais que as mulheres insistissem, Matilde não dava nenhum detalhe, queria causar
impacto.
Enfim
chegou o dia do casamento, os homens se encarregaram da arrumação do salão e depois
de tudo pronto Herculano foi buscar o bolo. Quando chegou em casa, estava tão
curioso, pois nem ele ainda tinha visto o bolo, que nem notou o desanimo de Matilde
que estava sentada na sala, lhe deu um beijo e foi direto para cozinha apanhar
o bolo e quando o viu exclamou: - Nossa! Está lindo! Falou com
empolgação e foi interrompido pela mulher que aos gritos correu até ele: - Está
grande demais! Não passa na porta, não sei o que fazer! Matilde chorava
e o marido tentou de todas as formas, mas não tinha como, o bolo não passava
nas portas, nem nas janelas, nem em pé nem de lado, de jeito nenhum, era realmente
grande demais. Matilde estava arrasada e resolveu ir falar com as outras
mulheres que ficaram enlouquecidas e a que parecia a líder delas logo achou a
solução: - Vamos fazer a festa na sua casa,
sem bolo é que não dá para ficar! Matilde argumentou que a casa era
pequena, que não ia caber todo mundo, mas de nada adiantou e foi um corre,
corre para transferir tudo do salão, ou melhor, quase tudo para casa de Matilde.
Tinha cadeira até na calçada, o cartaz da entrada com o nome dos noivos ficou
em cima da caixa d´água e só era visto da rua, as bebidas dentro da banheira e
os doces e salgados espalhados pela casa em cima dos moveis. Mas o pior mesmo
foi quando os convidados começaram chegar e só queriam saber de ver o bendito
bolo, assunto mais comentado nos últimos meses e a curiosidade era imensa, não
teve quem não pronunciasse um vigoroso “Oh!”
quando davam de cara com a obra prima de Matilde que já não sabia mais como
fazer com aquela loucura de gente se apertando na sua cozinha minúscula, mas
que era o local que todos queriam ficar, pois era lá que o bolo estava. Nem a
noiva teve tanta atenção, cada um que chegava dava os parabéns e corria para
apreciar o foco da festa, o bolo. E assim foi até o dia raiar naquele empurra,
empurra na casa lotada, musica alta, uma festa para ficar na historia do bairro
e no coração de Sofia, que apesar de perder em atenção para o bolo, era uma
felicidade só. E assim foram felizes para sempre!