Acordou cedo, ou melhor,
levantou porque praticamente não dormiu. Passou a noite toda pensando no grande
dia. Estava exausta, mas no primeiro toque do despertador saltou da cama, seria
um dia longo, último antes das férias de uma semana para lua de mel após o
casamento. Queria deixar tudo organizado no trabalho e a noite desfrutar de sua
despedida de solteira com as amigas.
Tomou café rapidamente e
seguiu para o escritório de contabilidade onde trabalhava no centro da cidade.
– Bom dia, bom dia..., disse ao
entrar pela porta esbaforida. Eurico, o chefe, que tinha sempre um olhar mais
longo para ela, retribui ao cumprimento lamentando em pensamento o fato de sua
mais bela funcionária estar com as horas de liberdade contadas.
Melissa era o nome dela,
da sonhadora menina tímida que iria se casar e seguir vida de senhora. Estava
nervosa como toda noiva as vésperas do casamento, mas o que mais estava a lhe
afligir era a despedida de solteira, não parava de olhar o relógio para
verificar quanto tempo faltava para terminar o expediente e poder ir ao
encontro das amigas. Do escritório só havia convidado Clarice e Jussara, pois
as outras mulheres que trabalhavam lá eram bem mais velhas e casadas e as
amigas que estavam organizando o evento não acharam conveniente convidá-las,
por mais que Melissa tivesse insistido.
Às dezessete horas,
Clarice e Jussara, fecharam as gavetas e partiram para o tão esperado momento,
a despedida de solteira de Melissa. Mas a noiva ainda teve que ficar
trabalhando mais um pouco. Dezoito horas,
dezenove..., ainda não podia ir embora, tinha que deixar tudo pronto,
afinal iria ficar fora uma semana e não queria deixar trabalho acumulado. Enfim
às vinte horas e quinze minutos havia conseguido acabar tudo e saiu deslizando
pelos corredores, observada pelo chefe que mais uma vez lamentava por ela estar
nas últimas horas de solteirice.
-
Melissa!... Pensamos que tivesse desistido! As amigas estavam
aflitas quando ela finalmente chegou ao bar que haviam marcado para tão
esperada despedida de solteira. O local era animado com música alta, os garçons
usavam calça preta, sem camisa e uma gravata borboleta prateada. A cada meia hora paravam nas mesas e faziam uma
coreografia um pouco insinuante, o que deixava Melissa vermelha e suando de
nervoso, só conseguia pensar em Fausto, o noivo. - Ah se ele me visse aqui... O lugar havia sido escolhido por uma
amiga que, por sinal, Fausto não gostava e ele nem desconfiava. Melissa havia
lhe dito que a despedida de solteira seria uma reuniãozinha entre mulheres só
para bater papo e beliscar uns petiscos na casa de uma amiga do escritório, o
que acabou por deixá-lo mais tranquilo e relaxado. Fausto era um homem
extremamente ciumento, nem podia imaginar que sua noiva estivesse em um lugar
como aquele. Melissa sabia disso e só de pensar sentia o coração gelar e por
pouco não levantou e foi embora assim que chegou.
As amigas estavam
eufóricas, dançando, bebendo e cada vez que os garçons se aproximavam das mesas
com a coreografia, elas quase desmaiavam de tanto gritar. Mas Melissa só
observava, ainda não tinha nem levantado da mesa, parecia travada, só pensava
em Fausto, como iria encará-lo no dia seguinte, - Ai meu Deus... se ele descobre...
Após muita insistência das
amigas, Melissa aceitou uma bebida que não sabia bem o que era, mas tinha um
gosto bom, bem docinha e gelada e foram três uma atrás da outra e ela enfim
levantou. Estava um pouco tonta, mas animada e começou a dançar com o garçom
que estava em seu momento de coreografia e as amigas incentivaram batendo palma
e gritando. Melissa seguiu a noite toda dançando com todos os garçons e se
deliciando com a tal bebida docinha.
Lá pelas cinco da manhã,
Melissa que estava dormindo em cima de uma das mesas do bar, foi acordada por
um dos garçons que bateu de leve em seu braço, - Vamos querida, a festa acabou..., hora de ir embora. Ela abriu os
olhos, olhou em volta e levou alguns segundos para entender onde estava. O
garçom continuava parado na sua frente, sorrindo e lhe estendendo a mão em
sinal de ajuda para sair de cima da mesa, -
Vamos querida, a festa acabou... Melissa estava confusa e começou a se
irritar com o jeito de intimidade que o garçom estava lhe tratando. Por fim
aceitou ajuda para ficar em pé e olhou em volta a procura das amigas. - Elas já foram. Disse o garçom, como
que lendo seus pensamentos. - Você estava
tão animada dançando sem parar, não queria ir embora de jeito nenhum que suas
amigas cansaram de lhe esperar e foram embora. Melissa estava atônita não
estava entendendo direito o que aconteceu e enquanto o garçom, com aquele ar de
intimidade falava sem parar ela ia tomando noção de seu real estado e ficava
cada vez mais surpreendida e sem coragem de querer ouvir tudo o que realmente
se passou com ela. Estava sem um dos sapatos, blusa amarrada, deixando a
barriga de fora, coisa que jamais faria em seu estado normal. Os cabelos estavam
totalmente desalinhados e um gosto horrível na boca, além do enjôo e da dor de
cabeça que começa a surgir. O garçom, cada vez mostrando mais intimidade, estava
com as duas mãos ao redor da cintura da Melissa, que quando percebeu o empurrou
quase jogando o rapaz no chão. – Hum!!...
Você estava parecendo gostar quando nós estávamos dançando... O que foi que
houve? Melissa não deu atenção a ele, só queria achar sua bolsa e sair dali
correndo. Após alguns minutos de angustiante procura, outro garçom se aproximou
e lhe entregou uma bolsa. - Suas amigas pediram para guardar para
você..., Melissa nem deixou o rapaz acabar de falar, pegou a bolsa e saiu
quase que correndo, tentando se ajeitar. Ao chegar do lado de fora, sentou em
um banco que havia na calçada, abriu a bolsa para ver se estava tudo lá. Estava
tudo e mais alguma coisa, Melissa quase caiu para trás quando achou vários
bilhetes com telefones e recados insinuantes dos garçons do bar e para piorar
seu estado, que já era lastimável, seu celular registrava vinte e cinco
ligações do noivo, o Fausto. - Ai meu
Deus..., Melissa estava desolada só de pensar o que Fausto estaria imaginando
e mais do que depressa pegou um taxi e seguiu para seu apartamento no Catete.
Eram quase seis horas da
manhã quando finalmente chegou em casa, não sabia o que fazer, se ligava para
alguma amiga, se ligava para Fausto, estava realmente perdida e resolveu que a
primeira coisa seria tomar um comprimido, visto que a dor de cabeça aumentava, e
um bom banho quente. Ao sair do banho, seu celular começou a tocar, era Fausto,
o noivo. Enrolou-se na toalha rapidamente e atendeu. – Alô... Oi meu amor..., Fausto estava nervoso e nem esperou que a
noiva pudesse respirar e foi logo gritando do outro lado da linha, - Melissa!!!!... O que foi que houve?... Onde
você estava? Liguei a noite toda para você, fui até seu apartamento..., quase
fui procurar nos hospitais, necrotério..., Melissa escutava tentando se
explicar, mas sem ter espaço e enfim deu um grito, mais de desespero do que por
se sentir injustiçada, como tentou demonstrar para ver se amenizava a situação.
– Ai... Fausto! Calma. Está tudo bem, já
ia ligar para você, mas acabei de chegar... Fausto estava indignado e tudo
que Melissa dizia só servia para aumentar ainda mais seu descontrole. – Como acabou de chegar?... Onde você estava
até agora? E por que não atendeu minhas ligações?... Melissa pensava, porém
com muita dificuldade, sua cabeça doía sem parar, além de que não estava
acostumada a mentir, mas não tinha outra saída, respirou fundo e se aproveitando
do descontrole do noivo fingiu um choro e o interrompeu falando rápido, antes
que perdesse a coragem. – Fausto!!!... Por
favor, pare de gritar comigo... Eu passei a noite na casa da..., pensou
rápido em um nome que ele não conhecesse e que não pudesse ligar para comprovar
sua história mentirosa, - ...da Carmen...,
ficamos conversando e nem vimos a hora passar..., meu celular ficou na bolsa no
quarto e quando vi já era tarde..., então resolvi dormir por lá e não quis lhe
acordar... E hoje vim para casa bem cedo e já ia lhe ligar quando você me
telefonou. Não há motivo para esse drama todo. Puxa hoje é o dia de nosso
casamento e já começamos brigando... Melissa estava aos prantos, mas agora
não mais de fingimento, estava realmente chorando e Fausto acabou por se sentir
culpado por ter agredido a noiva sem deixar que ela pudesse antes se explicar,
esquecendo até mesmo do fato de nunca ter ouvido falar de nenhuma amiga por
nome Carmen e ficou sem saber o que fazer para acalmá-la e quase a coloca em
outra situação difícil. - Meu amor...
calma, desculpe, estou indo para ai agora. Fique calma, não chore. Melissa
parou de chorar e quase se engasgou, -
Não Fausto!... Não venha não! É que... o noivo não pode ver a noiva antes da
hora do casamento, eu já estou bem. Pode ficar tranquilo. Melissa não podia
permitir que Fausto a visse naquele estado, com olheiras enormes, além do odor
que exalava de sua boca, parecendo que tinha ingerido álcool puro e da dor de
cabeça que insistia em latejar. Precisava de um tempo para se recuperar, não
poderia vê-lo naquele momento e sentiu um grande alívio quando o noivo
concordou e desligou debaixo de um enorme pedido de desculpas. Após desligar o
telefone se jogou no sofá e quando pensou que iria enfim descansar um pouco e
tentar entender o que realmente se passou na noite anterior, seu celular
sinalizou o recebimento de uma nova mensagem, - Nossa!!! Que noite hem?... Uma despedida de solteira para ninguém
botar defeito. Adorei amiga, arrasou. Até o casamento..., bem se é que você
ainda tá pensando em casar... hahahaha, bjs- Clarice. Melissa gelou e antes
que pudesse parar de tremer e ligar para Clarice para que ela lhe explicasse do
que estava falando, outra mensagem chegou ao seu celular, da mesma Clarice,
agora era um vídeo dela dançando em cima da mesa do bar, agarrada a um dos
garçons. Melissa estava apavorada, aquela não podia ser ela, não era possível,
não se lembrava de nada daquilo, só tinha lembrança de ter bebido alguma coisa
doce e de ter dançado um pouco, mas não o que acabava ver.
Apagou as mensagens e atirou o celular em cima
do sofá e ele logo sinalizou outra mensagem, - Melissa..., amiga!... Nunca pensei que você fosse tão animada,
caramba... Desculpe, não pude te esperar. Mas do jeito que você estava não deve
ter sentido minha falta... bjs – Jussara. Melissa não podia mais esperar,
pegou o telefone e ligou para Clarice. - Alô...
Clarice, tudo bem? Estava nervosa e sem coragem de perguntar o que
precisava, mas a amiga facilitou seu trabalho e foi direto ao assunto. - Melissa!!! Nossa não quis te ligar porque
pensei que estivesse dormindo, mas não resisti em enviar as mensagens. Você viu?
Estava um arraso..., Melissa não deixou a amiga acabar de falar e foi logo
cheia de indagações, - Clarice, o que
aconteceu?... Não me lembro de nada daquilo... Quem era aquele sujeito com quem
eu estava dançando? E por que vocês não me esperaram, me deixaram lá sozinha?...
Clarice parecia não acreditar no que ouvia e interrompeu Melissa que estava
quase chorando do outro lado da linha, mas tentando conter-se. – Como assim Melissa?... Você não queria vir
embora de jeito nenhum. Bebeu todas e só não ligou para o Fausto para acabar
com o casamento, por que escondemos a sua bolsa com o celular, se não, acho que
a essa hora não teríamos mais um casamento para ir hoje... Alias, vai ter
casamento? Desculpe amiga, mas você estava muito engraçada, nunca havia visto
assim. Foi ótimo. Ah..., o vídeo que lhe mandei, não foi o único não hem..., várias
pessoas filmaram você, inclusive os garçons... Hummm, cada gato..., você que o
diga sua danadinha, dançou com todos e bem agarradinha... Melissa mal podia
acreditar no que ouvia, - Clarice!! Pelo
amor de Deus, o que você está falando?... Como assim várias pessoas me filmaram?
Quem? Preciso saber para ligar e pedir para não mostrarem para ninguém... Clarice
começou a rir e só aumentou o desespero de Melissa que já era grande. - Melissa!!... Em que mundo você vive hem? A
essa altura já deve estar tudo na internet... E vai ou não vai ter casamento,
preciso saber para ver se vou ou não para o salão... Melissa, Melissa... Oi, oi...
Você ainda está ai? Melissa havia largado o celular e corrido para o
computador para acessar a internet e só conseguia pensara em Fausto, - Ai meu Deus... o que eu vou fazer agora? E
gelou na frente da tela quando viu vários vídeos seus com as mais bizarras
cenas dela dançando agarrada aos garçons do bar em cima da mesa e até uma em
que aparecia com dois. Pensou em ligar para Fausto e dizer que havia sido um
engano, que aquela não era ela, mas desistiu em seguida e torceu para que ele
não visse, sabia que não tinha o hábito de entrar na internet e resolveu contar
com a sorte.
Fez um café bem forte e
tentou dormir um pouco, mas não conseguiu. Resolveu então ir para o salão do
final da rua para desfrutar do dia da noiva, presente ganho das vizinhas do
prédio. Ao chegar, o local estava cheio de mulheres que olharam, todas sem
exceção, para ela e riram entre os dentes cutucando uma as outras como que
apontando em sua direção com o olhar. Melissa fingiu não ver, mas seu coração
quase parou só de imaginar por que estavam lhe olhando, Será que viram? Como assim tão rápido, não... não..., devem estar me
olhando por outro motivo, talvez por saberem que me caso hoje... Ficava
repetindo para si mesma em busca da tranquilidade perdida. Mas não adiantou,
achava que todos estavam olhando para ela e tudo que falavam era ao seu respeito
e resolveu então fazer somente o cabelo, as unhas e a maquiagem, deixando todo
o resto de crédito para outro dia. A gerente ainda tentou convencê-la a fazer
pelo menos a massagem relaxante, que lhe ajudaria a ficar bem disposta para o
casamento, mas não adiantou. Melissa agradeceu e foi embora, tudo que queria
era ir para casa tentar descansar um pouco antes do casamento que seria às
quinze horas no cartório do bairro seguido de um bolo na casa da tia de Fausto
somente para poucos amigos e parentes.
Já eram quatorze horas e
Melissa nem tinha começado a se vestir, estava cansada, ainda com dor de cabeça
e se sentindo horrível com aquela maquiagem que fizeram nela para esconder as
terríveis olheiras. Faltava meia hora para o casamento quando resolveu enfim
colocar o vestido, que também achou que não lhe caiu bem, nada seria capaz de
lhe agradar.
A campainha tocou, era o
Olavo, o primo de Fausto, para levá-la até o cartório.
Melissa abriu a porta e pediu
que ele entrasse e esperasse um pouco até que acabasse de se vestir. Após algum
tempo, Olavo acho que Melissa estava demorando muito e resolveu bater na porta
do quarto – Melissa..., estamos
atrasados, vamos logo... Assim o noivo pode desistir... Olavo resolveu
entrar visto que não obteve resposta e se deparou com Melissa nua em cima de
uma pequena mesa no canto do quarto dançando e olhando para a tela do
computador, que estava em uma cômoda ao lado da cama, um vídeo com ela também
dançando em cima de uma mesa agarrada a dois homens. Olavo levou um grande susto
e ficou de costas para não vê-la sem roupas. – Melissa!!!... O que está havendo?... Você bebeu? Está se sentindo mal?
O que significa isso? Melissa nem parecia àquela moça tímida que todos
conheciam e nem se importou que Olavo estivesse ali e sem lhe dar a menor
atenção, saltou da mesa para o chão, colocou um vestido preto com um par de
sandálias da mesma cor e saiu pela porta sem dar explicações deixando Olavo
tonto. – Melissa! Melissa! Para onde você
vai? E o casamento? E o Fausto?... O que vou dizer a ele?... Ele está esperando
no cartório... Melissa!!! Melissa só se limitou a gritar, já descendo as
escadas do prédio, que era para Olavo dizer a Fausto que ela estava indo se
despedir da sua despedida de solteira e que talvez não chegasse a tempo para o
casamento e seguiu descendo quase que correndo.
Olavo ficou sentado no
sofá com a boca aberta por alguns minutos, mas logo se lembrou do vídeo e
voltou ao quarto e mais de boca aberta ficou, - Nossa não é que é a Melissa mesmo... Ai Meu Deus o que eu vou dizer
para o Fausto?...
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