Fábio
era fisioterapeuta e tinha preferência pelo tratamento de pessoas idosas.
Gostava de trabalhar com os seus velhinhos como ele costumava chama-los de
forma carinhosa. Achava que apesar das limitações próprias da idade tinham
maior dedicação ao tratamento que as pessoas mais jovens, se bem que existiam
as exceções.
Fábio
trabalhava muito tinha os clientes particulares, como era o caso de D. Samira, sua
preferida, e D. Gertrudes, além das clinicas em que prestava atendimento. Seu
dia começava cedo, às 7h da manha já estava atendendo o primeiro cliente e
tinha dias que quando chegava em casa já passavam das 10h da noite, mas estava
feliz e plenamente satisfeito com sua profissão.
D.
Samira, sua cliente favorita, era uma senhora elegante no alto dos seus setenta
e cinco anos, estava sempre de ótimo humor e muito dedicada ao tratamento.
Gostava muito de Fábio, admirava seu trabalho e dedicação aos idosos, mas o
achava muito formal e serio demais para a idade. - Você ainda vai longe meu filho, mas precisa ser um pouco mais descontraído. Dizia sempre ao se despedir após as seções de
fisioterapia que fazia duas vezes por semana devido a uma artrose que já lhe acompanhava
há alguns anos.
-
Bom dia D. Samira, como tem passado? Está com ótima aparência e muito bonita! Ah
já sei, mudou o penteado, não foi? Ficou muito bom!
-
Bom dia meu filho. Eu estou bem, graças a Deus! Que bom que você gostou do meu
cabelo, modifiquei o corte. E você, por favor, pare de me chamar de Dona, ora.
Assim eu me acho mais velha do que sou. - Está bem D..., quer dizer Samira, vou
tentar. Fábio sempre
procurava saber sobre a vida de seus pacientes além de, impreterivelmente, elogia-los.
Talvez por isso fosse tão querido por todos eles.
D.
Gertrudes sua outra cliente particular era bem diferente de D. Samira, embora
fosse mais nova, tinha sessenta e sete anos, parecia bem mais velha. Estava
constantemente de mau humor e vivia reclamando de tudo e não se empenhava muito
no tratamento. Mas, como todos os outros gostava imensamente de Fábio,
sentia-se segura com ele. Em uma ocasião, ele tentou fazer com que ela realizasse
as seções de fisioterapia com um colega de profissão, devido a uma viagem
imprevista, mas ela não aceitou e esperou ele voltar para dar prosseguimento ao
tratamento. - Boa tarde D. Gertrudes, como foi seu dia?
Bonito vestido! Ficou muito bem na senhora. E aí, pronta para começarmos nossa
serie nova?
- Ai meu
filho que nada. Estou mal, não tenho passado muito bem não. E obrigada pelo
elogio, mas eu sei que é só bondade sua, nada em mim fica bem. Eu estou só
esperando a hora de Deus me chamar para ir encontrar com meu velho. D. Gertrudes
era um muro de lamentações e Fábio tentava animá-la, mas sem sucesso. - Que é isso D. Gertrudes, a senhora não pode
falar assim. Vamos lá, quero animo, não pode ser assim.
No
último mês, dois outros pacientes particulares de Fábio haviam falecido ambos
muito idosos e com enfermidades graves. Desta forma só estava com as duas
senhoras com atendimento privado e os demais, que eram muitos, atendia nas
clinicas onde trabalhava.
Nas
clinicas não tinha exclusividade de tratar somente dos idosos, mas os próprios
senhores e senhoras, que por lá chegavam, logo ficavam sabendo de sua dedicação
a classe mais velha e formavam fila de espera para serem atendidos por ele. Mas
nem por isso Fábio deixava de atender, com a mesma dedicação, os mais jovens
que também idolatravam seu tratamento que ia além das seções, ele costumava
ligar, enviar mensagens de incentivo e orientação aos seus pacientes.
Fábio
morava sozinho após o falecimento da irmã de sua mãe que lhe criou depois da
morte de seus pais ainda na infância. Estudou com sacrifício, mas com muita
dedicação, fez valer cada centavo gasto pela tia que trabalhava de sol a sol
para vê-lo formado. Era um jovem muito tímido, quase não tinha amigos,
divertia-se pouco, sua vida resumia-se ao trabalho e quando sobrava um tempinho
gostava de ir ao cinema, sua outra paixão além da fisioterapia.
Em
uma tarde, numa das clinicas em que trabalhava, Fábio atendeu a uma jovem
chamada Samara que logo lhe chamou atenção devido à semelhança do nome com o da
sua cliente favorita que só se diferenciava por uma única letra. O rapaz levado
por tal analogia julgou que a paciente seria uma senhora. – Boa tarde, D. Samara... em
que posso ajudar?... Fábio ficou desconcertado quando entrou na sala de
atendimento, certo de que ia encontrar uma senhora, e deu de cara com uma jovem
que deveria ter entre 23 e 24 anos no máximo. Ele ficou vermelho e
completamente sem graça, mas Samara
nada percebeu e atribui o fato de ser chamada de Dona a formalidade de
atendimento e só se ateve a descrever sobre as dores no ombro que estavam lhe
tirando o sono. Fábio olhou o pedido médico com a solicitação para fisioterapia,
realizou a avaliação e em seguida encaminhou a jovem para os procedimentos burocráticos
de autorização do plano de saúde para inicio do tratamento. Mas sua atenção não
estava totalmente voltada ao que fazia como seria habitual. Sentia-se tremulo e
um pouco nervoso sem conseguir encarar a nova paciente, a olhava de esguelha,
ainda abalado por seu engano quanto à idade como se a moça fosse saber do
ocorrido só de olhar para ele e ficar altamente ofendida. Ficou aliviado quando
finalmente Samara saiu. Desejou nunca mais cruzar com ela.
Um
mês já havia se passado e Fábio não tinha mais visto Samara, mas o jejum se
quebrou naquela manhã ensolarada de sexta feira. – Bom dia! Nossa nunca mais lhe vi por aqui, até pensei que não
trabalhasse mais na clinica. Tudo bem? Samara cumprimentava Fábio de forma
efusiva após avista-lo no bebedouro que ficava no meio do corredor e ir ao seu
encontro rapidamente. Fábio desta vez não teve tempo de disfarçar o susto e se
engasgou com a água que bebia além de derrubar o copo em cima da moça, causando
um pequeno acidente. – Ai
desculpe!...Nossa como eu sou desastrado, deixa que vou pegar um pano... Desculpe-me.
Fábio não sabia o que fazer, sua vontade era que o chão se abrisse e ele
pudesse entrar. Já Samara, como da primeira vez, nada percebeu ou fingiu
naturalidade o que parecia deixar Fábio ainda mais nervoso. – Não foi nada, tudo bem. Até que é bom um
pouco de água gelada para refrescar esse calorão que está fazendo. Mas e você,
por que sumiu? Nunca mais lhe vi. Foi com uma imensa força para voltar ao
estado normal que Fábio respirou e conseguiu responder. – É que este mês estou no turno das 6h da tarde às 10h da noite, deve
ser por isso que não estamos nos encontrando. Estou vindo hoje de manhã só para
cobrir o horário de um colega que me pediu... Fábio tentava demonstrar
naturalidade ao responder e Samara continuava em seu tom leve e alheio ao susto
do fisioterapeuta. – Ah... que pena! Já
ouvi falar muito de você por aqui. Já soube que existe até fila de espera para
ser atendido por você! Mas é verdade que você só gosta de atender os vovozinhos
e vovozinhas? Gostaria muito de poder fazer minhas seções com você também. Já
estou aqui há um mês, mas não estou vendo grandes melhoras. Quando é que você
vai voltar para o horário da manhã? Samara falava de forma tão descontraída
e demonstrando interesse pelo lado profissional de Fábio que acabou por
deixá-lo relaxado arrancando-lhe até um sorriso. – Nada disso, atendo a todos, idosos, jovens, todos. Mas me diga o que
está havendo com você? Seu problema pelo o que me lembro era uma tendinite no ombro
esquerdo, certo? Esses casos
geralmente são demorados mesmo, tem que ter paciência e persistir no
tratamento. Você tem feito as seções regularmente? A assiduidade é muito
importante para obter um resultado satisfatório. Samara ficou encantada por
Fábio se lembrar de seu caso mesmo só estando com ela uma única vez e já há
algum tempo. – Nossa você lembrou mesmo
de mim. É isso mesmo, estou com uma tendinite terrível! Tenho feito às seções,
mas realmente não com essa regularidade toda... Mas o fato é que não estou
vendo melhora e acabo ficando desestimulada. Quando é que vai estar por aqui de
manhã de novo para eu te procurar para você poder dar uma olhada? A noite é
muito ruim para eu vir até aqui. Fábio
abriu sua agenda, coçou a cabeça e após alguns segundos olhou para Samara com a
testa franzida e disse: - É parece que
ainda vai demorar um pouco, só volto para o horário da manhã daqui a vinte
dias. Mas não tem problema, todo mundo aqui é muito bom, tenho certeza que se
você fizer o tratamento com mais empenho vai melhorar. Tente ter uma
regularidade, vir todos os dias e logo, logo você se livra disso, vai ver. Samara
ficou decepcionada, pois estava realmente interessada em ser examinada de novo
por Fábio e principalmente que ele acompanhasse seu tratamento. – Ah... que pena! Vinte dias? Ei... mas
espera aí! Você atende particular, não atende? Consegue um horário para mim na
parte da manhã, por favor, ou será que já está tudo lotado? Pronto, o desconforto
de Fábio voltou. Pois para ele era totalmente fora de propósito atender os
pacientes da clinica de forma particular e ao mesmo tempo não queria ser
indelicado com Samara. – É atendo sim...
mas acho melhor a senhora prosseguir com seu tratamento aqui na clinica tendo
em vista que já foi iniciado e só está precisando de uma regularidade maior...
Fábio
estava totalmente sem graça e desta vez Samara percebeu. – Nossa, mas que formalidade. Não precisa me chamar de senhora, por
favor. E olha não tem problema você me atender como cliente particular. Estou
vendo que você está sem jeito porque sou cliente da clinica, não é? Se o
problema é esse tá resolvido. Desligo-me da clinica e pronto. Não estou mesmo
satisfeita. E assim fico fazendo o tratamento só com você. Pode deixar que não vou
comentar nada com ninguém, tá bom assim? Ai por favor, não diga que não. Todos
falam maravilhas sobre seu trabalho, sei que se fizer o tratamento com você vou
ficar boa, por favor! Samara falava tanto que Fábio estava ficando tonto,
mas ao mesmo tempo não se sentia a vontade para aceitá-la como cliente e
tentava argumentar sem o menor sucesso. - Por
favor, Samara. Não é que eu não queira atende-la, mas é que realmente acho que
deveria continuar seu... Samara mais uma vez o interrompeu e apelou para o
seu lado profissional. – Fábio, por
favor, me escute. Eu vou sair da clinica de qualquer jeito, não estou
satisfeita aqui, isso não tem nada a ver com você, já resolvi. Agora, será que
você realmente vai recusar me aceitar como cliente só porque eu já fiz
tratamento em uma das clinicas que você, por acaso, trabalha? Não vai nem
tentar fazer com que eu melhore? Vai me deixar sentindo dor enquanto poderia
pelo menos tentar me fazer melhorar? Mas tudo bem, já vi que não tem jeito
mesmo, vou procurar outro fisioterapeuta que queira me atender. Samara já
estava desistindo e ficando um pouco irritada quando Fábio finalmente resolveu
ceder aos seus apelos. – Tudo bem Samara,
vamos tentar fazer um tratamento. Mas por favor, não me leve a mal, só estava tentando
ser o mais ético possível. Mas já que você está me garantindo que sairá da
clinica de qualquer maneira..., não vejo porque não atendê-la. Passe-me seus
telefones que entrarei em contado para vermos um horário. Samara ficou
feliz com a decisão de Fábio e já na semana seguinte iniciaram o tratamento.
Já
havia se passado dois meses do inicio do tratamento de Samara e a melhora foi
muito significativa. Mas com o passar o tempo e a proximidade entre os dois, o
esperado, pelo menos para Samara, acabou por acontecer: Os dois se e
apaixonaram e após muita resistência da parte de Fábio, que não queria de jeito
nenhum misturar trabalho com a vida pessoal, eles se tornaram enfim namorados. O
relacionamento fez muito bem para Fábio que se tornou uma pessoa mais alegre,
mais solta. Já Samara foi ficando com menos empenho no tratamento, toda vez que
estavam juntos só queria saber de namorar, tendo em vista que o tempo de Fábio era
escasso, o que fazia com que sua agenda pessoal fosse prejudicada. Fábio não estava
nada satisfeito com a situação, não queria misturar as coisas, além de
realmente achar que o tratamento de Samara já poderia ter sido concluído, sanando
por completo o problema, o que ainda não tinha acontecido devido à falta de
empenho de sua paciente e agora namorada. Mas Samara estava se sentindo muito
bem com os resultados obtidos e não compactuava da ansiedade de Fábio pelo
termino da fisioterapia, para ela tudo estava correndo a contento.
Fábio
era um profissional altamente competente prestava toda a assistência a seus
clientes, mesmo quando não estava presente. Fazia contatos permanentes, gostava
muito de utilizar mensagens via celular para ter noticias dos resultados
obtidos com as seções e para enviar temas de incentivo e foi numa dessas vezes
que aconteceu um engano extremamente desagradável. Estava ele no metrô a caminho da casa de D. Samira, para mais
uma seção de fisioterapia e como viu que iria chegar um pouco fora do horário
marcado, apenas uns minutos, mas para não atrasar sua paciente resolveu lhe
enviar uma mensagem que dizia assim: -
Boa tarde, já estou a caminho, mas devo me atrasar alguns minutos. Para
agilizar, poderia começar a fazer o alongamento e assim quando eu chegar
iniciamos a serie sem causar maiores atrasos. Até breve. Após enviar a mensagem fechou o celular
recostou a cabeça e de repente pensou que seria uma boa ideia mandar uma
mensagem a sua namorada a fim de incentivá-la ao tratamento, como fazia com
seus demais clientes, mas achou que poderia ser de uma forma mais descontraída
e até mesmo um pouco ousada para lhe despertar o interesse e abriu mais uma vez
o celular e digitou: - Você anda muito
desatenta e desinteressada com seu tratamento. Não estou satisfeito com seu
empenho. Afinal, em primeiro lugar sou seu fisioterapeuta. Em nossa próxima
seção quero mais dedicação de sua parte, vamos fazer toda serie, e aí depois...
quem sabe posso lhe fazer uns agradinhos mais calorosos, mas só depois do dever
cumprido. Antes não quero saber de saliência. Estou certo que você não vai se
arrepender de se dedicar com afinco ao tratamento, vou saber recompensá-la
muito bem. Até a noite, bjs. Fábio seguiu
viagem, tranquilo, a caminho da casa de D. Samira e estaria tudo bem se não
fosse pelo fato de ter trocado as remetentes no enviou das mensagens. Quando
estava selecionando o celular de D. Samira para encaminhar o primeiro texto, na
verdade clicou, por engano, em cima do numero de Samara e quando foi a vez de
mandar a mensagens para Samara, o numero selecionado foi o de D. Samira. A confusão
se deu devido aos nomes só se diferenciarem por uma única letra e
ele ter registrado o número de D. Samira em seu celular somente pelo nome sem Dona
de tanto ela insistir para que a chamasse de você. Enquanto isso, D. Samira lia
por várias vezes a mensagem que acabar de receber e por mais que tentasse não
conseguia entender e falava em voz alta andando pela sala. – Não estou entendendo... Por que será que O Fábio não está satisfeito
com meu empenho? Sempre me dediquei tanto ao tratamento. E que estranho o jeito
dele... Tudo bem que eu sempre o achei formal demais e até mesmo insisti para
que relaxasse em nossas seções e me tratasse com um pouco mais de
descontração, mas não esperava tanto! E o que será que ele quis dizer com me
fazer uns agradinhos? Com não querer saber de saliências? Que saberia me
recompensar? Ai, ai, ai, ai, ai... não estou gostando nada do tom desta
mensagem. O que será que houve? Será que
de tanto eu insistir por um pouco mais de descontração ele acabou por confundir
as coisas? E porque trocou o horário assim tão em cima da hora? E sem falar
comigo, passando para a noite? D. Samira era uma senhora de espírito jovem,
mas muito seria e sempre admirou o jeito respeitoso de Fábio, mesmo o achando
muito formal. Ela estava confusa, mas muito irritada com aquela mensagem a qual
julgou grosseira e estava a ponto de responder quando o interfone tocou com o
porteiro anunciando que Fábio estava subindo. D. Samira se espantou, pois
aquela altura não o esperava mais tendo em vista que na mensagem havia
mencionado que a seção seria a noite. Ela estava nervosa, respirou fundo e foi
abrir a porta disposta a dispensar Fábio sem ao menos deixar que ele entrasse.
Pois uma coisa que não admitia era ser desrespeitada, principalmente por alguém
por quem sempre teve admiração. Já Fábio, sem desconfiar do que lhe aguardava,
assim que D. Samira abriu a porta a cumprimentou e elogiou, com a formalidade e
cordialidade de sempre. – Boa tarde D...
quer dizer Samira, como tem passado? Está com ótima aparência e muito elegante.
Bonito vestido... Foi só o que Fábio conseguiu dizer antes que D. Samira o
interrompe-se de forma ríspida lhe estendendo um cheque e praticamente o
mandando embora sem lhe dar chance de falar, o que lhe causou grande espanto. – Boa tarde Fábio. Acho que isso é tudo que
estou lhe devendo pelas seções deste mês. Inclui a de hoje também, apesar de
que não vou fazer. Por favor, confira. O recibo você pode me enviar depois, pelo
correio ou por um portador, como preferir. Agora se você me der licença tenho
um compromisso. Se voltar a precisar de seus serviços entro em contato. Fábio
estava estático parado na porta com o cheque na mão sem entender absolutamente
nada do que estava acontecendo e sua única reação foi segurar a porta, antes
que D. Samira a fechasse, em busca de uma explicação, mas sua tentativa foi em
vão. – D. Samira... o que foi que houve? Foi alguma coisa que eu fiz? Foi pelo meu
atraso? Mas não me atrasei tanto assim,
olha foram só dez minuto. Eu lhe passei uma mensagem falando a respeito, a
senhora não recebeu? D. Samira voltou-se para ele mais irritada e aos
gritos esbravejou: – Ah... a mensagem! Recebi
sim e saiba que não gostei, viu! Ponha-se daqui para fora seu sem vergonha! E
se não fosse pela agilidade de Fábio que pulou rápido saindo da frente ela o
teria acertado com a porta bem no meio do nariz. Ele ainda insistiu, tocou a
campainha por várias vezes, bateu na porta, tentou argumentar, mas de nada
adiantou, D. Samira não apareceu nem fez qualquer comentário e o rapaz resolveu
então ir embora completamente perdido e muito triste, pois não via motivo para
que um simples e pequeno atraso causasse uma reação daquelas.
Fábio
não sentia a menor vontade de trabalhar, seu desejo era de ir para casa, mas
seu profissionalismo, que sempre falava mais alto, lhe dizia que não podia
deixar seus outros clientes a esperar, já bastava o que um simples atraso
acabara de lhe causar e seguiu rumo a uma das clinicas em que prestava
atendimento onde encontrou uma fila de pacientes a sua espera.
Em
casa Samara começou a se preparar para receber o namorado após ler a mensagem enviada
por ele, a qual achou estranha, mas nem de longe desconfiou que Fabio pudesse
ter lhe encaminhado por engano. – Ai o Fábio com essa sua formalidade! Agora
resolveu me tratar como uma de suas clientes, mas tudo bem. Depois um dobro
ele, deixa só ele chegar aqui e me ver fazendo os tais alongamentos. Após algum tempo Samara já começava a
ficar impaciente. - Mas que coisa, ele
disse que já estava chegando e já passaram quase duas horas e nada. Droga!
Mudei todos os meus planos da tarde por causa dele e nada. Só estava esperando
ele aqui à noite. Ele muda o horário por conta dele e ainda se atrasa desse
jeito! Ai... vou ligar para ele. Samara ligou várias vezes para o celular de
Fábio, mas não teve sucesso, pois sempre que estava em atendimento ele
desligava o telefone e só ia ver os recados no final das seções. Mas naquele
dia estava com a cabeça fora de foco e esqueceu-se de ligar o telefone e não
viu os vários recados da namorada. As horas foram passando e após várias
ligações Samara estava realmente irritada e de muito mau humor e quando o
namorado, finalmente chegou a sua casa, por volta das oito horas da noite, ela
o recebeu sem o menor carinho como era de costume. Já Fábio após um dia pesado
onde teve que enfrentar o destempero de sua cliente favorita, que por mais que
tentasse não conseguia compreender, atender a vários clientes na clinica e
ainda D. Gertrudes com todo seu mau humor, seguia a caminho da casa de Samara
completamente esgotado e louco por alguns momentos de relaxamento e romance ao
lado de sua amada, mas não foi o que aconteceu para seu desapontamento. – Oi meu amor! Nossa estou exausto e louco
por uns momentos de chamego com você... Mas é claro que só depois de nossa
seção. Você não imagina como foi meu dia. Ufa! Vou tomar um banho e volto logo
para começarmos a serie e depois... Fábio falava e ia entrando, deixando
suas coisas na sala e se dirigindo para o banheiro para tomar um banho, pois sabia
que àquela hora Samara estava sozinha em casa e sentia-se mais a vontade. Já
Samara estava com a cara fechada sem dar a menor atenção ao que o namorado
falava e só queria saber de tomar satisfação do porque ele a fez esperar tanto
além de não ter respondido a nenhum de seus telefonemas e o interrompeu de
maneira nem um pouco afetuosa. – Olha
aqui Fábio, você está pensando o que? Estou te esperando há horas! Mudei todos
os meus compromissos da tarde por sua causa e você não apareceu. Você vive me
enchendo a paciência para eu levar o tratamento a sério, aí você muda a hora da
seção e ainda por cima não aparece e nem tem a consideração de avisar! Ah, por
favor! Liguei para o seu celular várias vezes e nada! E agora você me aparece
aqui dizendo que está exausto com a cara mais limpa sem me dar a menor
explicação e ainda dizendo que quer chamego! Não sou palhaça não! E trate de
pegar as suas coisas e ir tomar banho na casa da mãe Joana! E entrou para o
quarto batendo a porta deixando Fábio na sala sem entender nada, ele ainda
tentou foi até a porta do quarto de Samara, bateu, mas depois de algum tempo
resolveu ir embora sem saber de nada, o que achou que seria a melhor coisa a
fazer. – É hoje o dia não está para mim
mesmo, as mulheres todas resolveram surtar e eu não tenho capacidade de
entender isso. O melhor que tenho a fazer é ir para casa e dormir. Quem sabe
amanhã eu acordo e descubro que esse dia nunca existiu. Pegou suas coisas
saiu pelas ruas caminhando pensando o que havia acontecido e sem encontrar
explicação chegou em casa e se jogou na cama de roupa e tudo procurando apagar
aquele dia completamente fora de propósito de sua mente.
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